TRATADO DO CANTE - Almanaque:

"OS JUDEUS DE PORTUGAL

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A chamada Esnoga nasceu dos esforços das três comunidades de judeus safarditas de Amesterdão, construída em 1672, consagrada em 1675 e remodelada no século seguinte, resistiu a tudo, até ao nazismo, que reduziu os judeus portugueses da Holanda a 800 pessoas.
(…) 
Em 1492, os Reis Católicos expulsaram os judeus de Espanha, e cinco anos depois D. Manuel ordenou aos judeus que se convertessem ou se fossem embora, uma decisão mimética e trágica. Os judeus da Península eram talvez cem mil e exilaram-se em diversas nações europeias. A República Holandesa acolheu muitos deles.
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…Uma inscrição em português lembra os homens que ergueram aquele templo, os “zelosos favorecedores”, Moisés Curiel, Daniel Pinto, Moisés Israel Pereira, Isaac Pinto, José Israel Nunes, Samuel Vaz, David Salom de Azevedo, Abraão da Veiga, Jacob Aboab Osório, Jacob Israel Pereira, Isaac Henriques Coutinho ou Isaac Aboab da Fonseca, o primeiro rabino da sinagoga de Amesterdão, nascido em Castro Daire, Viseu.
(…)
… biblioteca. Funciona ininterruptamente desde 1616, é a mais antiga biblioteca judaica ainda em actividade … um quase-português de génio: Bento Espinosa, nascido em 1632 aqui em Amesterdão, filho de Miguel de Espinosa, natural da Vidigueira, Alentejo, comerciante ligado à marinha mercante e membro da comunidade judaica. … Espinosa foi o mais importante dos pré-iluministas: defendeu a separação entre política e a fé, a autonomia do conhecimento científico, a interpretação dos textos bíblicos como textos históricos, a tolerância e a democracia. … as opiniões de Espinosa foram condenadas como blasfemas pela comunidade judaica de Amesterdão … os seus escritos foram banidos pelas autoridades civis. … ele não é assim tão diferente dos homens inscritos em pedra nas paredes da Esnoga. Gente que Portugal não quis, mas que, por caminhos diferentes, contraditórios, às vezes ínvios, foram portugueses universais, portugueses das liberdades económicas, intelectuais ou políticas, judeus portugueses que fizeram o mundo moderno.”

De Pedro Mexia
In: E (a revista do Expresso, ed. 2257 de 30/1/2016), pág. E106




Espinosa nasceu em Amesterdão a 24 de Novembro de 1632 e viveu sempre na Holanda. Pertenceu a uma família de judeus portugueses, oriundos da Vidigueira, que emigrou para a Holanda. A inquisição em Portugal estava atenta aos cristãos-novos e perseguia-os se desconfiava que eram judeus que só se tinham convertido na aparência, praticando ocultamente a sua religião.

O pai, Michael ou Miguel de Espinosa casou por três vezes, sendo Bento de Espinosa filho da segunda mulher, Ana Débora de Espinosa. A mãe morreu quando o filho tinha apenas seis anos. Bento foi educado pela madrasta, Ester de Espinosa, com quem o pai casou dois anos após o falecimento da segunda mulher.

Bento de Espinosa fez os seus primeiros estudos na escola da comunidade judaica em Amesterdão, onde se familiarizou com o Antigo Testamento, o Talmud e outras obras de autores hebraicos.

Aquando da morte do patriarca da família, os filhos não ficaram em muito boas condições económicas. Bento deixou parte da sua herança à irmã e procurou o seu próprio sustento, enveredando pela profissão de polidor de lentes.


Além deste trabalho, foi atraído pelos estudos filosóficos e pelo pensamento crítico.

As suas ideias religiosas, divergentes da ortodoxia judaica, criaram-lhe conflitos com a comunidade israelita. Em 1656, após expressar livremente os seus ideais, foi excomungado e expulso da comunidade judaica.

Deixou Amesterdão para compilar as suas ideias e elaborar o seu sistema filosófico.

Escreveu várias obras, algumas ficaram por concluir, como De intelectus emendatione. Passou os seus últimos anos dedicado à composição de uma gramática de hebraico, Compendium Grammatices Linguae Hebraeae, que também não conseguiu terminar.

A sua profissão de polidor de lentes, que continuou sempre a exercer, em paralelo com a sua dedicação à filosofia, danificou-lhe a saúde devido ao pó que inalava, provocando-lhe uma doença pulmonar que o levou à morte em 20 de Fevereiro de 1677.


http://cm-vidigueira.bejadigital.pt/conhecer/bentoespinosa

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