Solidão, ai dão, ai dão «A verdadeira dialéctica não é um monólogo do pensador solitário consigo próprio, mas um diálogo entre o eu e o tu» - escreveu o filósofo alemão Ludwig Feuerbach, aluno de Hegel em Berlim, que viu a sua carreira interrompida em virtude da hostilidade às ideias religiosas expostas num dos seus primeiros trabalhos. O grande pensador morreria na miséria em Rechemberg. Solitário! Em monólogo consigo próprio. Leio Feuerbach, e sinto que na paisagem alentejana também Feuerbach foi traído, no monólogo surdo travado pelo cavador; socialmente segregado, isolado entre a terra e a enxada, entre o suor e o arado. Vivo Feuerbach no emigrante forçado, roído de saudades. E escuto Ludwig Feuerbach na «moda» pungente que a planície sorve em entardeceres sanguinolentos; Oh, que dor do coração/ Solidão, ai dão, ai dão/ Meu Alentejo deserto/ Quem não há-de ter paixão!..." in: "Alentejo Marginal", de Manuel Geraldo. Edições Caso.