TRATADO DO CANTE - Almanaque:

MINHA MÃE AMASSA O PÃO Minha mãe amassa o pão, E porque é mãe e mulher, Guarda-o no coração Para meu pai quando vier. Minha mãe amassa um beijo Pra meu pai que vem depois, Eu viro a cara, não vejo - São coisas lá entre os dois. Minha mãe amassa a vida, E a vida cabe-lhe inteira Na farinha desmedida, No infinito da peneira. Minha mãe amassa as flores, As que no campo se dão- E há mil cheiros, mil sabores Numa fatia de pão. Minha mãe amassa e diz Pra dentro do coração, Que só pode ser feliz Quando os outros também são. Minha mãe amassa o medo: Pode adoecer meu pai! - Vai amassando em segredo, Até que o medo se vai. Minha mãe amassa, amassa Prá farinha sair pão - E põe, se a água lhe falta, Lágrimas do coração. Poema de António Simões , Natural de Beringel, e professor em Estremoz, in " Minha mãe amassa o pão" , Câmara Municipal de Beja, 2001.