TRATADO DO CANTE - Destaque-se:
VICENTE RODRIGUES
Personalidade incontornável do Nosso Cante.
Quem não se lembra das "Cantarinhas de Beringel"? de "As flores da minha terra"? Criações suas!
Nasceu a 2 de Novembro de 1910 e faleceu em 12
de Janeiro de 1982. Natural de Alcáçovas, residiu deste tenra idade até ao fim
dos seus dias, na Vila do Torrão. Comerciante, proprietário de uma loja situada
na rua dos Cardins, onde se podia comprar do azeite as chitas, riscados ou
tecidos de la, Vicente Rodrigues mantinha nesse espaço privilegiado internos
contactos humanos. Muitos se recordarão ainda mesmo aqueles para quem se torna
necessário recorrer a memórias de infância, da figura roliça, Calva de cara redonda,
por detrás do velho balcão corrido, aviando o azeite a medida dos tostões da
cliente ou medindo pano: bem disposto e comunicativo. O seu discurso deixava
contudo transparecer uma certa ironia amarga mal disfarçada nas suas frequentes
"mangações". Foi como dramaturgo e sobretudo encenador que
primeiramente conquistou o apreço e admiração da população do Torrão que hoje
lhe presta sentida homenagem. As suas peças de teatro fornecem do mundo uma
visão maniqueísta: o bem sai vencedor e o mal punido. A pureza feminina, o
casamento por amor, a vida no campo (em oposição á na cidade) são valores
exaltados. A linguagem é simples e directa e a simbologia utilizada possui
carácter vincadamente popular; rosa-donzela, cravo-homem jovem, branco-pureza,
etc. Num meio de grande pobreza cultural, Vicente Rodrigues, persistentemente,
todos os anos, montava o espectáculo teatral, muitas vezes depois de ter
escrito a peça, preparado actores e cenário e vencido as mais diversas
dificuldades. "Na Páscoa havia teatro do Vicente". Esse espectáculo
iria lançar as canções que durante o ano seriam trauteadas por crianças e
velhos e, sobretudo, acordava na consciência de cada uma consciência colectiva
que Vicente Rodrigues guardava ano após ano mantinha viva. Foi sem dúvida como
animador cultural espantoso bem inserido no meio, por ser filho e a ele dedicou
tanto amor, Vicente Rodrigues conquistou um lugar muito especial no coração da
população do torrão. A produção poética de Vicente Rodrigues, em grande parte
destinada a ser cantada, é diversificada e reflecte quer as preocupações
existenciais do autor quer problemas de cariz local.
Cantarinhas de Beringel
Cantarinha de Beringel
de fresco barro encarnado
da água doce fazes mel
da fresca doce gelado
ai e essa tua esbelteza
que uma tal graça encerra
foi roubá-la a Natureza
prás moças da minha terra.
de fresco barro encarnado
da água doce fazes mel
da fresca doce gelado
ai e essa tua esbelteza
que uma tal graça encerra
foi roubá-la a Natureza
prás moças da minha terra.
Cantarinha de Beringel
minha linda cantarinha
pequenina graciosa
delicada donairosa
ai toda tão maneirinha
as moças da minha terra
modeladas a cinzel
pequeninas delicadas
são como tu engraçadas
cantarinhas de Beringel.
minha linda cantarinha
pequenina graciosa
delicada donairosa
ai toda tão maneirinha
as moças da minha terra
modeladas a cinzel
pequeninas delicadas
são como tu engraçadas
cantarinhas de Beringel.
Quando o sol no horizonte
vai morrendo p’la tardinha
lá vai a moça prá fonte
à cabeça a cantarinha
ai a moça é tão formosa
qual bonequita de louça
mas não sei qual mais airosa
se a cantarinha se a moça.
vai morrendo p’la tardinha
lá vai a moça prá fonte
à cabeça a cantarinha
ai a moça é tão formosa
qual bonequita de louça
mas não sei qual mais airosa
se a cantarinha se a moça.
As flores da minha terra
Ouvi dizer que a Cidade
Ia à praça vender flores
Vender flores é maldade
É maldade, sim, senhores!
Ia à praça vender flores
Vender flores é maldade
É maldade, sim, senhores!
É maldade, sim, senhores
Vender um amor-perfeito
Só pode vender amores
Quem não traga amor no peito!
Vender um amor-perfeito
Só pode vender amores
Quem não traga amor no peito!
Um raminho de violetas
À minha terra chamaram
As gentes das mais selectas
Que às suas portas passaram
À minha terra chamaram
As gentes das mais selectas
Que às suas portas passaram
Que às suas portas passaram
Perfumadas e selectas
E ainda mais o ficaram
P’lo perfume das violetas!
Perfumadas e selectas
E ainda mais o ficaram
P’lo perfume das violetas!
Ai, ai!
Ai, olhai!
Olhai, meus senhores
Minha terra linda
Mais linda é ainda
Por não vender flores!
Não vende, ela, as rosas
Cravos, também não
Que os lírios dão lírios
E os tristes martírios
Té saudades, dão!
Ai, olhai!
Olhai, meus senhores
Minha terra linda
Mais linda é ainda
Por não vender flores!
Não vende, ela, as rosas
Cravos, também não
Que os lírios dão lírios
E os tristes martírios
Té saudades, dão!
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