TRATADO DO CANTE - Cante de Despique e Baldão

"A propósito de... MARIANA MARIA


         Não sou do campo nem da serra
         Eu sou dum lado qualquer
         Não sei aquilo que sou
         Não sou homem nem mulher

Cantos de despique e baldão, sons telúricos, mistura de sonoridades de flamengo e árabe, o mistério do sul, a mística da terra quente, o homem em despique, o pegar do tema, o rimar cadenciado entremeado com o som cavo da viola campaniça: - Dir-se-ia um canto entre o satírico e o desafio entre machos, enfim, na noite quente e calma do sul vem-nos à memória histórias antigas de feiras e ganhões, de casamentos e batizados, de malteses e forasteiros, dos frutos secos, da aguardente de medronho, de serranias dividindo e aproximando Alentejo e Algarve, do barco subindo o Guadiana, o árabe europeizado cantando o seu destino num misto rude e poético, diria mesmo surpreendentemente angelical ...
É nessas noites que nos sentimos mais sulistas e mais agarrados a estas terras surpreendentemente apelativas; silêncio por favor, prometo que não vou cantar mas quero ficar em contemplação, quero ouvir a voz do sul... Agora canta uma mulher cheia de misticismo, Mariana Maria de seu nome, voz ritmada, algum requebro, rosto fechado mas pleno de candura, enfim, mais um mistério... Neste canto há citações curiosas dos mais diversos temas, até se falou em teatro, calculem... Uns melhor, outros pior, mas a mensagem passa e isso é que conta! Mariana é nome de musa do canto baldão, a sua intervenção em espetáculo domina os acontecimentos e a assistência fica atenta, eu diria mesmo agradavelmente encantada..."

Artur Mendonça

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