TRATADO DO CANTE:
Grupo Coral da Casa do Povo de S. Aleixo da Restauração, na Amareleja
“ RECORDAR É VIVER ” - O QUE SE DISSE
SOBRE...
“Cantadores de S. Aleixo da Restauração”
Do jornal “Luzeiro”,
retirámos uma interessante crónica, assinada por A. Delfino.
Neste número,
transcrevemos o que de mais interessante se disse naquele periódico:
“ Ainda ecoam aos
nossos ouvidos e na nossa memória as melodias cantadas nas tardes e noites
quentes de verão ou à porta das casas quando as pessoas se sentavam à noite
depois de um dia de labuta árdua, em Santo Aleixo.
Nos Cantos, mais
propriamente onde passei a minha infância, era aí que eu ouvia os rapazes novos
e os homens mais velhos cantarem modas, que na altura eram novas, tais como:
“Olha o papagaio de pena amarela”, “Viva Moura das Vilas Rainha”, “Se fores ao
Alentejo”, “Levantei-me um dia cedo”, etc...
(...)
Segundo se dizia na
altura, Santo Aleixo não se teria classificado por não saber cantar em
andamento. Fê-lo de roda, como costume de sempre, que ainda hoje se mantém
quando as pessoas cantam pelas ruas. Tomaram parte nesse concurso, além de
Santo Aleixo, os grupos de Moura e de Amareleja.
(...)
Mas, recuando no
tempo, e segundo se tem dito e afirmado, é nos anos 20, 30 e 40 que Santo
Aleixo tem o melhor e maior número de bons cantadores, que fizeram escola, e
cujo nome de alguns figuram na História de Santo Aleixo.(...)
No ano de 1933 o
grupo fez a sua primeira participação, de que há memória, em concursos. Foi em
Moura, no jardim. Tomaram parte os grupos de Serpa, Amareleja, e Aldeia Nova.
Neste concurso, Santo Aleixo impôs-se aos demais concorrentes, pois era difícil
cantar melhor do que Santo Aleixo nessa altura.
Conta-se que o Grupo
de Serpa trazia uma mulher juntamente cantando com os homens o que teria levado
o júri a atribuir-lhe o primeiro lugar, contrariando o público, que esperava
que Santo Aleixo ganhasse. Mas parece que a decisão final, já nesse tempo
longínquo, teve a política a fazer prevalecer os poderosos e a relegar o melhor
grupo para o lugar secundário. (...)
A 2..ª atuação do
Grupo de Santo Aleixo foi 5 anos mais tarde, em 22-8-38, em Moura, na esplanada
de Santa Justa. (...) Não houve atribuição de prémio nesta atuação.
(...)
No ano de 1940 o
Grupo de Santo Aleixo participou em Ficalho numa gravação para a Casa do
Alentejo, juntamente com os Grupos de Serpa e de Ficalho. Este trabalho era
dirigido pelo Dr. Valente Machado, de Ficalho, que na altura fazia parte dos
corpos diretivos da Casa do Alentejo, em Lisboa.
(...)
No ano de 1952 Santo
Aleixo participa no Grande Concurso de Cantares Alentejanos na Casa do
Alentejo, em Lisboa.
(...)
Participaram Grupos
de quase todo o Alentejo, até o Grupo de Reguengos de Monsaraz, do Alto
Alentejo. (...) Serpa venceu o Concurso e Santo Aleixo ficou em 6º lugar. Mas
nessa altura Serpa possuía um Grupo difícil de bater e que marcou uma época na
História dos Cantares Alentejanos.
A Emissora Nacional
transmitiu através da rádio parte do Concurso, mas por algum motivo que se
desconhece, as modas do Grupo de Santo Aleixo só puderam ser ouvidas oito dias
depois, no programa “ A Voz do Campo “, por influência da Editora Valentim de
Carvalho, para a qual o Grupo gravara o disco. Este acontecimento fez deslocar
muitas pessoas às Sociedades Recreativas, para ouvirem as modas através da
rádio, pois na altura poucas pessoas possuíam rádio.
(...)
Este acontecimento foi
um dos maiores da história do Grupo de Santo Aleixo. (...)
No decorrer dos anos
50 o Grupo de Santo Aleixo deslocou-se várias vezes a Moura, onde se realizavam
concursos entre os Grupos do Concelho, ora pelo S. João, nos Santos Populares,
ora em Outubro por altura das Festas de Nossa Senhora do Carmo. Os referidos
concursos efetuavam-se normalmente na Praça de Touros e tinham sempre modas
obrigatórias que contavam para a classificação dos Grupos e atribuição dos
prémios.
(...)
Santo Aleixo, através
do Grupo dos homens, fez uma exibição inesquecível, que levantou a Praça,
cantando a moda “Meu Alentejo Dourado”. Mas inesperadamente foi o Sobral da
Adiça que conquistou o 1º lugar do concurso, tendo Santo Aleixo sido relegado
para o 2º lugar. Contrariando o vaticínio da assistência esta decisão do júri
levantou uma trovoada de protestos da assistência que enchia por completo a
Praça. O júri foi alvo de grandes críticas e apupos e alguns comentários de
espectadores mais exaltados.
(...)
O Grupo de Moura, com
extraordinários cantadores e apresentando uma moda nova que fez sensação na
época “Ó Moura Linda” teve a infelicidade de se enganar ao entrar na Praça e
foram fortemente apupados pelos seus conterrâneos que não lhes perdoaram o
engano.
Nesse mesmo ano, em
Outubro, o Grupo de Santo Aleixo voltou a cantar em Moura.
(...)
A moda obrigatória
desse concurso foi a “Nossa Senhora d’Aires”. Voltou novamente a ganhar o
Sobral da Adiça, desta vez com Justiça. A moda era de difícil execução e eles
foram os únicos que a conseguiram cantar em andamento, o que era bastante
difícil. Moura voltou a estar presente e como anteriormente apresentou uma moda
nova essa que perdurará para sempre: “Nossa Senhora do Carmo”. Tomou parte
neste concurso pela 1ª vez um Grupo da Póvoa de S. Miguel.
(...)
Devo referir que
nessas épocas Augusto Escoval (já falecido) ensaiou e preparou um grupo de
miúdos que se exibiram numa noite de baile na Sociedade do Pim-Pim com bastante
êxito. Nesse grupo também se revelaram miúdos de grande talento que mais tarde
viriam a integrar o grupo dos homens. ”
ANTÓNIO DELFINO
in: Boletim do Cante alentejano nº. 2 de Outubro de 1997.
Comentários