TRATADO DO CANTE:

... É ASSIM, PORQUE É ASSIM MESMO!


Do gosto pelos cantes alentejanos, que me vem da infância, nada indiciaria que eu, desse autoria a um livro (Corais Alentejanos, ed. Margem, 1997) que aborda, de forma inventariada, os grupos corais existentes no Alentejo e na zona da grande Lisboa onde a comunidade Alentejana é, fortemente, representada.
No Alentejo, ainda hoje, os cantadores são todos, mas quem canta de forma sentida, conhecedora e ordenada, são muito poucos, considerando o potencial existente.
Dos fatores do desinteresse surtiu a dificuldade encontrada na passagem de tão significativa mensagem que é o cante, para as gerações seguintes, que não estando conciliados com as realidades que as modas abordam, também não se motivaram para o estilo que as modas comportam.
Na zona da grande Lisboa, os fatores que levam, ainda, a que existam grupos corais alentejanos, prende-se, como não poderia deixar de ser: pelo gosto de cantar e pela ligação que tem com as suas terras de origem. Mas, existem comportamentos novos, que dão origem a novas modas e que segundo opiniões diversificadas são e não são toleráveis. É o caso da inclusão de novos poemas, onde muitos deles não se coadunam com a temática "Alentejo", em todas as suas componentes, a não ser no estilo melódico utilizado para suporte.
O Alentejo é cantado nesta “moda” (o cante), por grupos onde a média etária, dos seus cantadores é superior aos 65 anos, mas lá andam, com motivação e com aquela "carga", que eles muitas das vezes conseguem fazer transparecer nas modas que cantam. E, quando isso acontece até provoca calafrios e muitas das vezes lá vêm as lágrimas mal contidas daqueles que os estão ouvindo. Sabem porquê? porque estes homens e mulheres que ainda cantam o seu Alentejo, desta maneira, são os mesmos que ao longo dos anos das suas vidas, guardaram o gado, fizeram as sementeiras, as mondas as ceifas, a apanha da azeitona, trabalharam nas eiras e executaram todos os trabalhos do campo e ainda tiveram alegria para participar, cantando, nas adiafas, nas festas populares, nas tabernas e no fim dos trabalhos, antes do advento da mecanização e do êxodo para a zona da grande Lisboa, nas décadas de 50 e 60, para onde partiram à busca de coisa boa.
No Alentejo e pelo andar da carruagem e com muita boa vontade, os grupos manterão o seu estatuto e representatividade, por mais uns anos. Até quando…
É preciso fazer a escola do cante, mas só uma e com todos os grupos e os seus cantadores. Apela-se para que nunca inventem novas escolas dentro do cante.
Que se juntem as vontades porque todos não seremos demais para contornar algumas desigualdades na forma de cantar, todas elas justas.
E, … é assim, porque é assim mesmo! Como os queijinhos do mestre Colaço (Dito usado na zona de Mértola).

Nota: Um dia que passem por Mértola, tentem saber o porquê deste dito.

José Francisco Pereira

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