TRATADO DO CANTE:
Congresso
do Cante Alentejano
Beja,
8 e 9 de Novembro de 1997
PAINEL
C PERSPECTIVAS FUTURAS DO CANTE
-
Ora boa tarde. É exactamente para marcar a presença da Federação Portuguesa das
Colectividades Cultura e Recreio que vos trago a mensagem da Direcção, embora
tenha posto também um cunho pessoal e queria dizer-vos que sinceramente durante
a manhã da minha presença aqui no Congresso e no continuar da sessão tenho
aprendido bastante e inclusivamente penso ter feito alguns contactos muito
interessantes até em relação às colectividades onde eu estou envolvido. Então
eu passava a ler o texto que preparei para esta sessão:
José
Gomes Ferreira traduziu magnificamente em verso esta maneira de estar no mundo
que caracteriza a alma alentejana.
“Nunca
ouvi um alentejano cantar sozinho”.
Um
dia em Tozeur na Tunísia, ao escutar Lotfi,,, e Bosnac cantar em coro, de
repente o Alentejo estava ali num café do oásis. Tão familiares eram os sons
que emocionaram os meus ouvidos de homem do sul. Alguns meses atrás, imaginem,
vim de propósito a Beja para me inspirar e escrever um poema sobre a cidade.
Nessa ocasião visitei a Ovibeja e por todo o lado a própria fala era música.
Música tão envolvente quanto foi a dos pássaros desta manhã no embalo dos quais
acordei para a luz fria e limpa do Outono alentejano. Vim com os pássaros
cantores das árvores para mergulhar o coração no conhecimento dos homens
pássaros que são como as árvores. Igual às oliveiras resiste-se aos sóis de
inferno. Caminhas sem vergonha na tua terra. É tão custoso acariciá-la com
brisas de esperança as mãos doridas de tanto amor. Alentejano! A tua gota de
suor ensina-me a respirar. Não é fácil erguer um palácio de palavras e sedes,
não é fácil viver de pé e cantar. “Represento neste Congresso uma Instituição
solidária e que ainda ontem, em conferência de Imprensa na Casa do Alentejo em
Lisboa manifestou o mais fundo pesar pela tragédia que feriu o nosso Alentejo.
Juntando as mãos com outros organismos nacionais e regionais em prole da
reconstrução e entreajuda que as martirizadas populações carecem neste momento.
A Federação Portuguesa das Colectividades Cultura e Recreio é também uma casa
que ama a música, essência de um povo que através dela sabe expressar e elevar
magistralmente em torrentes de sentimento, trabalho e canseira, amor e
liberdade, convívio e sonho. A FPCCR através das Casas Regionais sediadas em
Lisboa e das diversas associações regionalistas que por todo o país defendem um
valioso património cultural, está igualmente vocacionada para conferir à nossa
vida colectiva um precioso contributo que possa aproximar através de uma
dinâmica de intercâmbio colectividades e associações das diversas regiões de
Portugal, levando-as a tomar consciência do seu valor enquanto forças criativas
unidas e interventivas. A actuação conjunta no âmbito do departamento do
regionalismo manifestou-se por exemplo aquando do dramático acidente que
vitimou vários elementos do grupo etnográfico de Mouriscas do Vouga. Mas as
várias casas e associações regionais de Lisboa que se puseram à disposição
daquela entidade, tal como agora se organizaram na recepção de apoios às
vítimas das enxurradas em valores e numa conta bancária, também viveram dias
festivos de encontro e de permuta, de artesanato ideais (?), de poesia e de doces,
de músicas e sorrisos, sempre em Outubro ao longo dos últimos dois anos durante
o desenrolar da Festa das Colectividades. Amigos, trago-vos em nome da
Federação a sincera crença na pujança do movimento associativo alentejano. A
organização deste Congresso prova que a nossa confiança é plenamente
justificada. Uma palavra calorosa a todos os que viabilizaram a ideia, “Que
modas, que modos?” Faço votos para que os modos sejam vastos e as modas nunca
acabem.
Obrigado.
Dr.
Luis Maçarico
Comentários