TRATADO CANTE - Escrito

TRATADO CANTE - Escrito:


 Tipo Alentejano. Desenho de Rafael Calado. Almanaque Alentejano - 1955. p 271

CANTAR DE SERPA

Cantar de Serpa toada enigmática
Que vem colar-se à minha pele nua
E vestir-me de mágoas incontidas
De farrapos de vida
- fantasmas da planície ao pôr da Lua.

Cantar de Serpa, ó melodia vaga…
Presença que nos trazes ecos de ausência…
Toda a planície a abrir-se em seus mistérios
E a fechar-se ciosa de se dar.

Dolência
Arábico-mourisca a circular
Nos glóbulos sanguíneos da raiz…
Que traz
Consigo mil defeitos e virtudes
Não sei de que país…

É maldição
Que esmaga
O túmulo da alma como praga!
É sedução
Anestésico, filtro que embriaga
Libertação
Do que os séculos atiram sobre nós
E a que as palavras
Não dão significado
Por já gastas e escravas.

Cantar de Serpa,
Ó feitiço da terra incompreendida,
Ó tradução de recalcada vida
Que como um fardo pesa sobre nós…

Cantar de Serpa,
Música de suão
Sobre os longes sem fim sorvendo o céu…
Prece! Lamúria! Estranha melopeia
Onde a chorar pela nossa própria voz
A terra canta
A sua heroica e trágica epopeia.

Joaquim Vermelho

In: Almanaque Alentejano, Ano XVII – 1955. Obra patrocinada pela Casa do Alentejo. Pag. 271. 


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