TRATADO DO CANTE - Almanaque:
MELLOS,
BOCARROS, BRAVOS DE
NEGREIROS...
Ah, que não sei dizer
a maravilha,
Que embruxa Serpa, à
noite, quando ronda
Seus muros o Passado,
e um coro em onda,
Espuma e quebra, às
Portas de Sevilha:
Não há mais fina,
pálida escumilha,
Nem grave som, mais fundo,
se arredonda...
Cala-se o coro:
espera que responda
Um eco, pelo abóbada
que brilha!
Oh, que feliz eu
fora, se ficasse,
Por todo o Tempo, a
ouvir a toada cava,
Ébria de aromas da
planície ardente:
Feliz – cheia de
lágrimas a face –
Chorando sem saber
porque chorava,
E, quanto mais
chorando, mais contente!
Mário Beirão, Poesias
completas (Pão da Ceia-1964), pág. 564.
Mário Pires Gomes Beirão nasceu em Beja
no dia 1 de maio de 1890, na Rua das Portas de Aljustrel, e faleceu em Lisboa
em fevereiro de 1965. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa,
exercendo o cargo de conservador do Registo Civil de Mafra. Como poeta,
insere-se na corrente do Saudosismo, tendo sido amigo de Teixeira de Pascoaes,
Afonso Lopes Vieira, entre outros. Dessa amizade resultou a sua colaboração na
revista A Águia. É aliás nessa revista que se estreia como poeta
com o poema «As Queimadas» (nº4, de 15 de Janeiro de 1911). Em 1912 publica a plaquette Sintra.
Obras:
Sintra (1912);
O Último
Lusíada (1913);
Ausente (1915);
Lusitânia (1917);
Pastorais (1923);
A
Noite Humana (1928);
Novas
Estrelas (1940);
Mar
de Cristo (1957);
O
Pão da Ceia (1964);
Poesias
Completas (edição organizada por
António Cândido Franco e Luís Amaro, IN-CM, 1997);
Oiro e Cinza (viagens, 1946).
Oiro e Cinza (viagens, 1946).
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