TRATADO DO CANTE - Almanaque:

A tradição do Espírito Santo ao Sul



"O Domingo do Pentecostes (palavra derivada do grego que nos chegou pelo latim e quer dizer 50º dia depois da Páscoa) lembra a descida da chamada terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, sobre os Apóstolos que, segundo os Actos dos Apóstolos, "veio do céu e encheu a casa de um ruído semelhante a um sopro de vento impetuoso que encheu toda a casa onde eles habitavam. E apareceram-lhes línguas divididas à maneira de fogo, e pousou uma sobre cada um deles; e ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito Santo lhes concedia que se exprimissem."
Com base na ideia de que o Espírito Santo é o que traz a criatividade, o inesperado, há uma tradição que preconiza que haverá no mundo uma Idade ou uma Era em que todos terão o devido sustento e as condições necessárias para viverem.
Joaquim de Flora, um frade cisterciense italiano, já no século XII profetizava que a Nova Idade, que os franciscanos denominavam do Espírito Santo, deveria substituir, em futuro próximo, a Igreja decadente que ao longo dos séculos se afastara dos princípios sãos e simples pregados pelo Salvador.
A partir desta ideia de Joaquim de Flora, a Rainha Santa Isabel e o Rei Dom Dinis criaram o culto do Espírito Santo em Alenquer, sentando à mesa uma série de pobres.
Jaime Cortesão dedicou-se ao estudo deste culto e acha, no entanto, que o culto deve ter sido criado pelos franciscanos em Alenquer em 1323, com a criação da Igreja e Hospital de Alenquer. Jaime Cortesão refere que até ao fim do século dezasseis, havia setenta e cinco vilas e cidades com templos da sua invocação, oitenta hospitais e albergues com as suas capelas respectivas, cerca de um milhar de igrejas, conventos e principalmente ermidas que possuía, na sua maioria, Confrarias do Espírito Santo e que realizavam procissões, festas e romarias alusivas ao Império e à coroação do Imperador.
Podem-se destacar dentre as vilas e cidades onde se radicou este culto: Portalegre, Marvão, Niza, Santiago do Cacém, Mercês e Penedo (próximo de Colares), Alcabideche, Marmelete, Alte, Aljezur, Bordeira, Odeceiche, Bansafrim, Barão de S. João, Eiras, Trofa, Guimarães, Paul, Monsanto da Beira e Tomar. Em muitos destes sítios as manifestações deste culto desapareceram e noutros encontram-se ainda mas com significativas alterações.
A Festa dos Imperadores passou do Continente às Ilhas da Madeira e Açores com os primeiros povoadores e daqui irradiou para o Brasil, a África Portuguesa e a Índia, e mais tarde, para os Estados Unidos da América e Canadá, onde ainda se encontra bem viva. No Brasil, por exemplo, chamam-lhes as Festas ao Divino.
Estas festas são acompanhadas de rituais cantados acompanhados por foliões com bombos e pandeiretas. Há quem veja nessas melodias vestígios da música norte africana
De seguida, vamos ouvir uma cantiga que é cantada na mesma freguesia, a da Praia do Norte, na ilha do Faial, depois da comida, ainda sentados à mesa.
Uma das figuras de destaque da cultura portuguesa dos últimos cinquenta anos que deu uma particular importância a este culto foi o Professor Agostinho da Silva. Dele é o texto que vou ler a seguir intitulado: "Dez notas sobre o culto popular do Espírito Santo", onde está nítida a importância que o Professor Agostinho da Silva dava a Portugal como fazedor de um novo mundo em que, simbolicamente a criança seria a imperatriz do mundo."
 MER


Fui pagar uma promessa
Ao Divino Espírito Santo
A Montoito, e não te esqueça
Que eu por ti sofro tanto.

In: Cancioneiro Alentejano, compilado por Vítor Santos, p. 107.


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