TRATADO DO CANTE - Escrito:
"Modas": Canções regionais alentejanas.
"Tal
como procedemos para as cantigas (Quadras populares), deixamos registada na
base de cada "moda" a
localidade ou localidades onde foi recolhida e, portanto, se conhece e canta.
Do facto de certa "moda" levar apenas um registo, não se deve inferir
que só aí seja conhecida. Não, as mais delas são comuns a outras localidades e
regiões do Baixo Alentejo onde igualmente são conhecidas, embora com ligeiras
variantes na letra (versos) e no próprio estilo,
isto é, na música que as constituem.
A verdadeira
origem ou procedência de muitas delas nem sempre é fácil saber-se, posto que,
se há "modas" restritas a
certas localidades, só aí sendo conhecidas, outras há, porém, que, tendo maior
área de circulação, se conhecem em todo o Alentejo, onde vão sofrendo as suas
variações.
Criada a
"moda", quero dizer, depois
que surge, logo se espalha e divulga numa área de cada vez mais larga, dada a
facilidade com que o homem se desloca de uma para outras localidades, de uma
para outras regiões.
As "modas" registadas nesta colecção de
mais de três centenas, creio-as alentejanas e do Baixo Alentejo. Há, todavia,
nas "modas" certas e
determinadas características que nos levam a afirmar peremptoriamente da sua
verdadeira origem alentejana. Convém esclarecer, pois, aos menos entendidos,
nesta matéria a que é que nós chamamos "modas" alentejanas e quais as suas características.
A razão desta
denominação baseia-se no facto de passar a ser cantado por toda a gente, como
uma coisa nova, isto é, como moda, qualquer cantar que apareça no folclore da
região. É, portanto, a esse novo cantar que, andando tanto em voga, e passando
a ser moda, chamamos "moda".
Rapidamente o Povo dele se apropria (e tanto mais quando lhe agrada),
espalhando-o e divulgando-o de boca em boca numa área de cada vez mais vasta. (...)"
(in "Subsídio para o Cancioneiro Popular do
BAIXO ALENTEJO")
do Professor Manuel Joaquim Delgado
Manuel Joaquim Delgado nasceu em Beja, no ano de 1910 e faleceu na cidade de Lisboa, no ano de 1990. Poeta, e um dos nossos mais distintos filólogos e etnógrafos. Filho de Pedro José Delgado, lavrador alentejano e de Carolina das Dores Delgado, doméstica. Foi o 4º filho de 12 irmãos todos naturais de Beja. As suas habilitações académicas correspondem ao curso de professor primário e ao 7º ano de Letras do Liceu. Como professor, exerceu funções docentes cerca de 18 anos e durante mais de 21, desempenhou funções administrativas de direção, orientação pedagógica e inspeção do distrito escolar de Beja. Sempre se mostrou avesso à sem-razão, ao falso espírito crítico, ao comentário tendencioso e injusto. Teve sempre manifesta tendência a sentir, de modo especial e muito seu, a influência de diversos agentes, quer do meio ambiente, quer do meio social e humano em que viveu. Os seus livros mostram isso mesmo, com especial relevo na sua obra poética. Das suas obras de carácter dialectal, linguístico, etnográfico, folclórico e monográfico destacam-se; O Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo, A Linguagem Popular do Baixo Alentejo e o Dialecto Barranquenho, A Etnografia e o Folclore do Baixo Alentejo, Estudos Linguísticos, Ensaio Monográfico. Os seus estudos, considerados de grande rigor ciêntífico, foram inseridos em diversas publicações especializadas.
(nota da Biblioteca Municipal José Saramago de Beja)
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