TRATADO DO CANTE - Almanaque:
Da Planície à ilha:
REVOLUCIONÁRIOS,
OS GATOS
De gatas
Andam os gatos.
Com as patas
Fazem serenatas
Nas cordas do muro.
Sobem muito acima,
Atravessam o escuro,
Vão à chaminé, onde,
Por sobre os telhados,
Selam envelopes - armadilhas
Para os ditadores anónimos
Desembarcados nas ilhas.
Manhosos ungulados,
Sabem mais de Política
Que sábios consumados.
Almeida
Firmino
In. Narcose (Obra poética completa) Colecção
Gaivota/27 - Sec. Regional de Educação e Cultura, 1982, Angra do Heroísmo.
Poema do livro V/Não queremos bombas na cidade/1974, p. 154.
Firmino, João Júlio Almeida Caldeira
[N. Portalegre, 8.2.1934 ? m. São Roque, ilha do Pico, 14.11.1977]
Poeta. No liceu de Portalegre, onde não chegou a concluir o ensino secundário,
foi aluno de José Régio que acabou por influenciar o seu gosto pela escrita.
Nessa altura publicou os seus primeiros poemas e, em 1953, rumou em direcção
aos Açores na companhia do pai que foi colocado na secretaria do tribunal de
Angra do Heroísmo. Trabalhou na Base das Lajes e após o serviço militar
regressou aos Açores. Foi então colocado em São Roque do Pico, como
escriturário do tribunal, onde viveu até ao fim dos seus dias. A partir de
1957, iniciou a publicação de vários livros de poesia, que acabaram por ser
reunidos, posteriormente (1982), num só volume, com o título de Narcose. É um poeta
da geração da Gávea, revista de arte de que foi um dos
co-directores, conjuntamente com Emanuel *Félix e Rogério Silva. Colaborou em
vários jornais e revistas, considerando-se açoriano de opção. Na opinião de
Álamo Oliveira, Almeida Firmino foi «capaz de assimilar a genuína essência
existencial do povo picoense (...) por ele trabalhou, dedicando-lhe todas as
horas do seu dia». A sua poesia é caracterizada por um «idealismo humanitário,
de arrepio e inquietação, formalmente de expressão moderna e vanguardista, ao
mesmo tempo que pessoal» (Carvalho, 1979: 304). Está incluído nas antologias de
poesia açoriana organizadas por Pedro da Silveira e Ruy Galvão de Carvalho. Carlos Enes
Obras principais. (1957), Saudade Dividida. Angra do Heroísmo, Tip. Diário Insular. (1964), Novembro, cidade dos crisântemos esquecidos. Angra do Heroísmo, Ed. do Autor. (1968), Ilha Maior, Angra do
Heroísmo, Ed. do Autor. (1971), Em Memória de
Mim: antologia, 1952-1971. Angra do
Heroísmo, Ed. do Autor. (1971), Não queremos
bombas na cidade. Angra do
Heroísmo, Ed. do Autor. (1973),Lápide para a cidade de Angra do Heroísmo.
Angra do Heroísmo, Ed. do Autor. (1976), Tailândia. Angra do
Heroísmo, Ed. do Autor. (1980), Escritos (Compilação de António Caldeira Firmino). Angra
do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1982), Narcose, obra poética
completa. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura.
Bibl. Carvalho, R. G.
(1979), Antologia poética dos Açores, 2.o vol. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da
Educação e Cultura. Oliveira, Á. (1982), «Almeida Firmino ? Poeta dos Açores».Narcose.
Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Cultura. Silveira, P. (1977), Antologia de Poesia açoriana, do século XVIII a
1975. Lisboa, Sá da Costa.
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