TRATADO DO CANTE - Figuras do Cante:
MANUEL JOÃO MANSOS
“Então que é
isto, Manuel João? Então agora prensam-te num
disco, espalmam-te dentro desta capa? Já não chegava terem-te metido num livro
fininho de menos de 80 páginas? Eu sei que não é isso, eu sei que não foi assim
mas não é para ti que escrevo estas palavras. Elas são para quem te não
conhece, ou para quem te conhece mal. Elas começam assim para puxarem outras,
para me levarem a dizer que não senhor!, que nem tu cabes em livros e discos,
que nem te meteram lá, nessas “moengas”. Tu não esperas. Tu comandas. Quando
muito dão-te uma ideia e tu, Manuel João, avanças. Até a ideia ser vida e
entregue aos outros. Como este disco. Este disco… Não me posso esquecer de bem
salientar que é um LP. Para o Manuel João Mansos isto é muito importante. E
sabem porquê? Claro que é (também) porque o Manuel João não quer dúvidas, não
quer ser homem de pequenas coisas, mas é (sobretudo) porque assim estará mais
tempo com os outros. Connosco, a dizer-nos os seus versos. E como ele gosta que
os ouçam! E como é preciso que os ouçamos. Mais do que tudo, pela força que
quer ter a sua voz pelo pedaço vivo em sangue que Manuel João quer ser do seu
Alentejo dos alentejanos, do nosso Portugal dos portugueses de aqui e dos que
deixámos abalar.
O Manuel da
Fonseca, num dos prefácios ao primeiro livro de Manuel João Mansos, escreveu
que as surpresas são para os outros. Mas os outros começam a não se
surpreenderem quando começam a conhecer o Manuel João. Depois deste LP, ele
ainda ficará mais vivo, mais perto de nós, trazendo-nos o amor às gentes, a
paixão pelo que não pode ver deserto, a procura do verdadeiro nesta embrulhada
em que nos querem. E a coragem da simplicidade que não podemos deixar perder. A
coragem. Ah, grande Manuel João! Apanhaste-me numa curva e não pediste,
impuseste-me duas palavras para a capa do teu disco. Elas aqui estão, em
respeito pelas grandes palavras que, em ti, readquirem força, e uma pureza, e
uma simplicidade que sabe bem (e é preciso) ouvir. Como tu dizes, “juntemo-nos
todos, que homens sinceros mesmo de credos vários são iguais”.”
Sérgio Ribeiro.
FF CA LP-012
- 1972 (LP) vinil “Alentejo Maior (poemas)” (registo sonoro).
- Edição: Valentim de Carvalho
- Poemas: O
meu livro, Quadras, O homem que bem se regre, Nunca te dês por vencido, Um só
ideal, Depois do dever cumprido, Dor vencida, Quem nem há-de ter paixão, A uns
que não reparam, A um sujeito feliz, A um hipócrita, Para certos conterrâneos,
O jogo, Toda a noite sem dormir, A clara razão, A verdade, A Jesus, Ao coração
na tristeza, Quem tem um amigo guarda-o, As flores do meu jardim, Não julgues
por cantar rosas, Canção do emigrante, Fraternidade, Ser cristão, Poesia,
Prece, Ausência sem presente, Na dor do correr das lágrimas, Rosas de sangue.
Manuel João Mansos.
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