TRATADO DO CANTE - Almanaque:
MINHA MÃE AMASSA O PÃO
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Minha mãe amassa, tonta,
Do seu tempo de menina,
Brincadeiras sem ter conta
Que ela de novo imagina.
Minha mãe amassa versos
Dos tempos de rapariga -
Saem os pães tão diversos:
Cada um, sua cantiga.
Minha mãe amassa a bela
Toutinegra do Moinho* –
Ao partir-se, o pão revela
Mil paixões em desalinho.
* A Toutinegra do Moinho, de
Emílio Richebourg, Biblioteca Universal, Lisboa, 1929, (“Romance de grande sensação, com bonitas ilustrações originais”,
como se lê na capa) era vendido em fascículos, porta a porta, e avidamente lido
e partilhado entre amigos e vizinhos. A seis meses do meu nascimento, já minha
mãe o lia, e não é abusivo pensar que, de vez em quando, relembrasse o seu
complexo e emocionante enredo, enquanto ia amassando. Falecida a 20 de Janeiro
de 1952, com apenas quarenta e sete anos de idade, minha mãe, de seu nome Maria
Joaquina Amaro Simões, possuía a sexta classe e deu, em Beringel, aulas particulares do então denominado ensino
primário, a dezenas de alunos que ainda hoje a recordam com saudade e simpatia.
(...)"
de António Simões
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