TRATADO DO CANTE - Livros do Cante:
LANÇAMENTO DE LIVRO
"Que modas? ...Que
modos?"
LOCAL: Centro
Social e Cultural da Silveira - Lajes do Pico
DIA: 21
de Março de 2005
HORA: 21:30
Horas
APRESENTAÇÃO
Boa noite!
Exmª. Senhora Presidente da C M das Lajes do Pico
Exmº. Sr. Dr. João Andrade Santos
Exmº. Senhor José Roque
Exmª. Senhora Drª. Maria Eduarda Rosa
Exmª. Senhora Drª. Olga Ávila
Exmº. Senhor Maestro Emílio Porto
Meus Senhores e minhas senhoras
Não me é fácil determinar os motivos do porquê de lançar um
livro de actas de um Congresso realizado no Alentejo, em 1997, sobre um tema
tão genuíno, como são os seus cantes. Mais correcto seria, de facto, lançá-lo
lá, no Baixo-Alentejo.
No entanto e porque é importante ver mais além Tejo, porque não
ver mais além Mar, e encontrarmo-nos na imponente ilha do Pico, na bonita Vila
Baleeira das Lajes, na Silveira, aproveitando a boleia de Almeida Firmino - da
planície à ilha - e fazer um brilharete, que ficará para a história do Ser
Alentejano: do seu povo e do seu cante em especial.
As coisas não acontecem por acaso e hoje, dia do início da
Primavera, mais razões temos para nos sentirmos felizes, por trazermos a este
povo Picoense uma mensagem de algo que, para eles, poderá ser diferente mas que
no arrolar de interesses indica o quanto é preciso fazer, quer no Alentejo como
nos Açores ou em qualquer parte do mundo. - Tornar possível o FEITO. Temos é
que meter mãos à obra.
Quando em 1995 iniciei a tarefa de inventariar os grupos/ranchos
de cante alentejano, não fazia a mínima ideia das dificuldades que me iriam dar
grande prazer em contornar. E foram bastantes. Na altura dirigi-me ao então
Secretário da Cultura, Dr. Rui Nery, a pedir apoio. Claro que a resposta foi um
não acentuado com a justificação de que não tinha perfil académico para
desenvolver esse trabalho. Claro que lhe respondi que o trabalho ia ser feito e
que lhe enviaria o resultado: o livro Corais Alentejanos, das Edições Margem,
editado em 1997, onde estão
referenciados 104 grupos, então, existentes no Alentejo e zona da Grande Lisboa
(hoje existem perto de 140).
Só para termos um pouco a noção do estado de irrelevância e de
desacreditação em que se encontrava o cante alentejano, relato a seguinte
passagem: - Quando abordei o Grupo Coral "Os mineiros de Aljustrel",
por sinal o grupo mais velho, constituído legalmente, dirigi-me a um cantador e
disse que queria falar com o responsável do Grupo. Foi-me indicado um
determinado senhor, a quem me dirigi e apresentei os meus propósitos. Tomou
nota, disse que sim a tudo e ficou de me enviar os dados. Como tardavam,
dirigi-me a Aljustrel e procurei o tal responsável, que ao fim ao cabo ninguém
sabia quem era. E aí, com este novo contacto houve novamente a promessa de que
enviariam os dados. Como nunca mais chegavam, um dia fui assistir a um encontro
de Grupos Corais onde actuava o dito Grupo e aí fiquei a perceber o porquê da
falha de informação. Quando fizera a primeira abordagem ao Grupo, a pessoa que
me indicaram foi o porta estandarte, figura de menor relevo dentro da estrutura
do grupo. Tal era o descrédito e desconfiança que então se vivia. Claro que as
coisas normalizaram e hoje podemos dizer que temos um bom relacionamento.
Em 1996, numa conversa com o então Presidente da Casa do
Alentejo de Lisboa, fui convidado para organizar o Congresso do Cante, isto
porque foi considerado que eu tinha um abrangente conhecimento do estado da
música tradicional alentejana. Aceitei mediante condições, que foram aceites, e
que provocaram muitos amargos de boca.
Hoje e aqui, se encerra a
minha missão de Comissário do I Congresso do cante.
Sobre o livro unicamente
citarei o resumo das conclusões. Antes disso quero salientar e agradecer à
Maria Eduarda, que me acompanha desde Outubro de 97, neste feito, e que sem o
seu sacrifício, saber e ajuda não teríamos actas, e a todos aqueles que de uma
forma ou de outra tornaram possível este TERMINAR BEM.
Passemos ao:
RESUMO DAS CONCLUSÕES:
Podemos sintetizar em seis pontos as grandes conclusões deste
Congresso:
1. O incentivo à investigação da génese, ainda desconhecida, em
certa medida, do cante alentejano, havendo quem sustente a sua origem
gregoriana, eclesiástica ou cristã e quem advogue a sua origem arábica ou
islâmica.
2. O desenvolvimento de esforços no sentido da constituição de
um organismo que seja depositário da memória da idiossincrasia do cante
alentejano - um arquivo audiovisual do Alentejo. Neste deverão figurar as
gravações sonoras (comerciais ou de campo); os registos visuais dos grupos de
cante entoando as melodias, narrando estórias da vida, etc.; os livros e
diverso material iconográfico; os trajes; os objectos de artesanato, de
trabalho, mineiro, rural, etc.; a colaboração com as Universidades ou outras
escolas, onde leccionem especialistas do cante, poderá e deverá existir. Poderá
este arquivo estar incluído num futuro Instituto Alentejano da Cultura e
Desenvolvimento.
3. A inserção da teoria e da prática do cante alentejano nos
programas escolares, havendo quem sustente essa incorporação nas escolas de
ensino público e quem defenda a criação de escolas de cante independentes do
poder do Estado.
4. A preservação da etnomusicologia alentejana como um todo (o
cante, o despique, o baldão, a viola campaniça). Nesta matéria as opiniões
dividem-se. Os mais fixistas sustentam que os espectáculos de cante se devem
realizar com o traje a rigor tradicional; outros evolucionistas advogam que o
cante deve manter a sua genuinidade musical, mas as letras das canções e os trajes
podem evoluir e ser adaptados a este final do século XX e a inclusão no cante
da voz feminina.
5. A vinculação das autarquias em todos os concelhos
alentejanos, na defesa e propagação do cante. As Câmaras Municipais deverão dar
apoio logístico (transporte, sedes para grupos corais, imprensa, etc.) e
financeiro aos grupos e escolas de cante, sem que estas caiam no domínio da
política partidária.
6. A formação de uma federação de folclore alentejana - a
Federação de Grupos Corais Alentejanos - que poderá ser a força motriz da
formação do arquivo audiovisual do cante alentejano e dos próximos Congressos
do cante alentejano.
José Francisco Pereira
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