TRATADO DO CANTE - Almanaque:
TERRAS DE FOGO - Prólogo
“(…)
Depois carecemos surpreender
as eiras na faina ardente do meio-dia …; assistir à abalada dessa gente que,
mal a madrugada lampeja, lá vai em coros matinais, caminho das ceifas e apanha
de legumes, e vê-la no regresso, à noitinha, transpondo as muralhas do burgo,
braços dados, cores garridas, caras morenas e vermelhas bocas a cantar; atentar
nas suas festas, bailes, fogueiras de São João, arraiais, romarias com touradas
bravas, e esses opulentíssimos certames de movimento e cor, que são as feiras e
mercados, onde todos os cambiantes da vida moral e social alentejana denunciam
costumes, paisagem, e tudo absorvido do mais pitoresco tradicionalismo.
…
Passando um dia por esta
região, mais ao Sul, notei que havia uns poços empedrados e outros com pesadas
tampas de ferro. Não sei bem porquê, mais do que se fossem sepulcros, me
impressionaram aqueles poços cerrados…
Perguntei o motivo, e entre
as razões que me deram avultava a de suicídios – suicídios de gente moça que se
apaixonava com violência por qualquer contrariedade vulgar ou detalhe de amor.
…
Compreendi, assim, toda a
dolência e melancolia que eles emprestam às suas modas e cantares por essas
noites cálidas, calmosas, misteriosas noites de levante e de queimadas…
(…)”
In: “Terras de Fogo” – 2ª
Edição. De Julião Quintinha. Desenhos da capa de Bernardo Marques. Edição do
autor. 1923.
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