TRATADO DO CANTE - Referências:
ARTISTA PLÁSTICO DO CONGRESSO DO CANTE ALENTEJANO REALIZADO EM BEJA EM 8 E 9 DE NOVEMBRO DE 1997:
ANTÓNIO GALVÃO
ANTÓNIO GALVÃO
Nasceu em Moura, 1945.
Está representado em diversas colecções nacionais e estrangeiras.
(…)
“... Em António Galvão a primeira pincelada de cor que
lança na tela é um espaço branco de esperança, o encontro do seu coração em
ardências frescas e mutações azuis... A gala de amar a sua Moura ... Esta
preocupação é um caso impar na pintura portuguesa.”
Artur
Bual
“... António Galvão é um poeta que, justamente por ser
poeta e alquimista, não se limita ao inventário, à recenção ou ao testemunho do
real, mas sim e principalmente à criação ou recriação que não sendo cópia nem
retrato do real, é, por isso mesmo, a sua mais exacta (e bela) imagem.
Traduzido para o papel ou para a tela, o Alentejo (e não
só) é, na interpretação deste pintor de traços circulares, o camponês onde a
vida desliza com o invencível movimento dos mundos num recolhimento de
eternidade.
Na circularidade dos traços, o labirinto das esferas.”
Miguel
Serrano
“No flagrante sentido de a pintura ser sempre uma
"imitação" ou "reinvenção" do real que se projecta na
realidade visível e imediata do mundo e das coisas, toda a arte pictórica se
revela, aos olhos de quem a observa, como profundamente humana e nada a pode
substituir na vitalidade própria que manifesta. Portanto, pode dizer-se que o
pintor se impõe na escolha dos pormenores, imagens ou fragmentos mais
expressivos da vida e depois os sabe combinar e harmonizar na composição dos
quadros - e nessa forma de categorizar os seus "modelos" ou
"alquimias" como matéria pictural, desdobra intencionalmente esse
mesmo e pessoal "discurso" nas razões da sua emotividade e
entendimento do mundo.
Ora, ao olhar-se estes últimos trabalhos de António
Galvão, patentes nesta exposição, na natural expectativa de mostrar a sua
pintura e saber das reacções e gostos de quem a aprecia, na profusão de tintas
e aproveitamento dos fragmentos pictóricos destas "têmperas", numa
mistura e osmose de outros sonhos ou espaços que a dimensão destes quadros não
deixa "respirar" com maior nitidez, o que sobressai deste
"discurso" é (ainda) a intenção primeira de ronovar o seu diálogo com
os outros, ou ainda e sempre o acto de fazer com que a pintura seja o lado
"visível" do que se não diz ou se esconde. Por isso, nas sombras,
imagens e manchas destes quadros, de um claro sentido pictórico «bualesco»,
António Galvão percorre as veredas dos mesmos sonhos e nostalgias de uma
constante memória alentejana, nitidamente evidenciada na imagem fugaz de uma tourada,
na sugestão de sóis e figuras de um idêntico e longínquo Alentejo que se não
cansa de fixar e reviver.
No sentido pictórico destas "alquimias", na
presença de um surpreendente Pessoa ou de figuras femininas escondidas ou
disfarçadas em manchas mais escuras, nessa propositada e labiríntica combinação
de azuis, amarelos, ocres, vermelhos, o que importa ver nos trabalhos de
António Galvão é a atitude de quem leva a vida a pintar, na permanente canseira
dos trabalhos e dos dias, redescobrindo por entre esses sonhos de pintor a
"verdade" de uma arte que só descobre ou deixa olhar o que os nossos
olhos puderem e quiserem ver. Porque se trata de uma pintura que não inquieta e
permite sossegar os olhos, imaginar o que está para lá das sombras e manchas,
mesmo no aproveitamento pictórico do seu suporte final (pinturas sobre cartão
ou "alquimias" procuradas de outros sonhos picturais), os trabalhos
de António Galvão reafirmam o empenhamento do pintor em persistir na sua linha
de rumo, como verdadeiro e coerente sentido da sua pintura.”
Serafim
Ferreira
“A António Galvão
- Companheiro-poeta de patrícia memória, esta emoção
telúrica de uma tela revisionada)
Uma
quente paisagem
Um
horizonte exangue:
Sobreposta,
a imagem
de
um rosto sem nome:
-
Nem sulcos de sangue
nem
sinais de fome
Que
quadro perfeito
visão
e raiz
de
um conceito
da
mesma matriz.
Por
isso, o abraço,
A
breve ternura
ressalta
do traço
da
luz, da pintura.
É
casual o espaço,
madrugada
pura.”
Domingos
Janeiro
in: "Boletim do Cante Alentejano". nº. 2. Outubro de 1997.
Comentários