TRATADO DO CANTE - Escrito:
“CANTO
(…)
- Quando, há anos, revelámos, num trabalho quase
esquecido a extraordinária fonte lírica, notável sob os pontos de vista mais
exigentes, que são os Cantos Alentejanos,
corrigindo uma informação leve, gratuita, de Oliveira Martins, que, algures
havia afirmado que o Alentejo não sabia cantar, - escrevíamos sob a impressão
do orfeão mais vivo, natural e maravilhoso, que em terras portuguesas, nos fora
dado ouvir!
Ah, o orfeão alentejano é bem o transporte, o êxtase, do
homem em canto, sua expressão mais alta e mais funda, como só a encontramos no
habitante da estepe eslava; alguma vez, no coral da misteriosa gente dos Alpes.
…
O Canto Alentejano é belo no seu escuro ou suave tumulto,
tal como vem, se despega da índole: se é do génio nativo, do instinto!
…
Misteriosos cantos! Como Oliveira Martins, quase sempre o
cronista do sonho, como dos nossos pesadelos, errou desta vez a figura do
alentejano, ao informar-nos, na sua História de Portugal, de que ele só
rarissimamente cantava! Bem pelo contrário, podemos afoutadamente dizer, o
alentejano, e sobretudo o natural do Baixo
Alentejo, rarissimamente deixa de cantar.
(…)”
In: “Alentejo cem por cento”, de Prof. Joaquim Roque.
Edição da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo. 2ª. Edição. 1990. Págs.
81/82.
Joaquim Baptista Roque, Prof.
Joaquim Roque como ficou conhecido, nasceu a 26 de Janeiro de 1913, em Peroguarda, concelho de Ferreira do Alentejo e faleceu a 2 de Dezembro de 1995, em Lisboa. Filho de
Maria Carolina Pedras e de João Baptista Roque. Casou-se em 1938 com Carmen Rocha Raposo. Professor,
escritor, jornalista, etnógrafo e folclorista português dedicou muito da sua
vida aos estudos etnográficos do Alentejo tendo recolhido milhares de quadras
populares da região transtagana. Foi professor primário em diversas localidades
alentejanas, foi adjunto do diretor escolar de Beja e diretor escolar de
Lisboa.
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