TRATADO DO CANTE - Escrito:

CANTE
(Após conversa com António Cunha, quando em Serpa Paulo Lima geria a Casa do Cante)

Canta acima da garganta
quem assim anda cantando.
Este coral que nos cantando
inspirou-se respirando.

Não precisou de procura.
Nada lhe estava distante.
Tinha a terra e a ternura
pela terra que é constante.

Tendo o longe à sua altura
e à do céu, foi-lhe bastante
pedir o tempo à lonjura,
pedir à terra o semblante.

Também tendo a desventura,
que não quis nem um instante,
tentou encontrar-lhe cura
dando-a ao vento levante.

Deu arado à terra dura
tornou o pão abundante.
Tirou do sol que fulgura
durante o dia diamante.

Pediu para a noite escura
prata à sua vigilante
- a noite que lhe murmura,
tornando a terra cantante.

A tota esta mistura
juntou-se o seu semelhante
e, em coro, tudo figura
e se prolonga no cante.”



in: Tempo da Terra

Martinho Marques
Edição de autor
Capa (ilustração): António Paisana
Capa (fotografia etextura): António Cunha

Outubro de 2018.
Pág.s: 30/31.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TRATADO DO CANTE - Modas:

TRATADO DO CANTE - Destaque-se: