TRATADO DO CANTE - "Que Modas? Que Modos?
“Que Modas? ...Que modas?
O Cante foi sempre uma das primeiras e principais manifestações do sentimento popular. Como expressão da cultura dos povos impõe-se à própria vida; o contentamento, a tristeza, a alegria e a dor, passa-os o ser humano para a escala dos sons enriquecendo as harmonias sublimes que regem o universo.
A canção popular, disse alguém, é música que fala: fala do amor, do trabalho, da dor. O grito alivia; se se transforma em canto, eleva. O Canto chega a tornar bela a própria dor.
As modas alentejanas cantam todas as manifestações da vida (os modos de ser, de estar, de sentir) e traduzem particularmente dois sentimentos: o amor e a saudade; mas o amor puro e são, a saudade feita de um sentimento natural que é nobre e elevado.
Façamos então tudo para que não se perca este preciosíssimo património regional que são as nossas lindas modas. Recolher as modas populares é desenterrar monumentos de beleza.
Esta será a versão lírica ou o modo ficcionário de abordar o assunto, só que, quando descemos à terra apercebemo-nos que o problema em questão é de grande complexidade e de difícil solução, mas consideramos também que, por isso mesmo, não se pode deixar passar passivamente mais tempo sem que nada se faça para evitar a sangria de emoções presente que irá inevitavelmente transformar um fenómeno cultural de massas numa prática restringida à intervenção de uns poucos, por razões específicas conseguiram resistir às adversidades e temporariamente manterão o cante ainda vivo com maior ou menor rigor. De igual modo, e a reforçar esta ideia, o facto de os poderes assistirem impávidos e praticamente indiferentes à delapidação, ao apagamento e até mesmo ao aviltamento do património mais rico desta terra e da nossa gente.
Terão sido estes de entre tantos outros, motivos para que o tema CANTE tivesse tratamento, em espaço de debate alargado como foi o I Congresso do Cante Alentejano, que teve lugar em Beja, em Novembro de 1997.
Recordo-me bem dessa altura: Foi entidade promotora a Casa do Alentejo, representada pelo José Chitas e o José Pereira Jr.. O José Pereira foi o Comissário, coadjuvado pelo Artur Mendonça e pelo Paulo Gouveia. Do Secretariado, do qual me orgulho de ter feito parte, lembro ainda os nomes dos restantes companheiros: o João da Palma, José Francisco Colaço, Luís Franganito, Manuel Coelho, Joaquim Soares, José de Jesus, Carlos Botelho, José Miranda, Eurico Domingos e a saudosa Fernanda Patrício que já não está entre nós.
Hoje, passados que são quase oito anos dessa realização, é tempo de reavivar memórias. Vai ter lugar o lançamento da edição das actas deste I Congresso.
Trabalho árduo do José Francisco Pereira e da Maria Eduarda da Organização Cultural Faialentejo.
Não se trata de um romance que cativa imediatamente pela força das imagens ou pela elegância do ritmo da frase. Nada disso. Este é um livro onde cada um à sua maneira retrata as Modas e os Modos, muitas das vezes fazendo a evocação do modo de ser pobre, mas nunca subserviente, nesta terra que dá por nome de Alentejo.
Trata-se de um importante documento de consulta, até porque não há testemunhos que passam pelas Raízes e Estudo do Cante, Perspectivas Futuras e Valorização.
É um livro que não se destina a um leitor modelo mas que atravessa todas as camadas de público.
É inteligente sem ser ostensivo, é culto sem ser pretensioso, vai ser histórico. Até porque aqui e ali os mais velhos nos emprestam a sua memória e os retratos das vivências, transcritos ao longo da obra, fazem a história das modas e dos modos destas, das nossas gentes. “
José Roque
José Roque
Nota: O lançamento do livro das actas do 1º Congresso do Cante, aconteceu no Centro Social e Cultural da Silveira – Lajes do Pico, Açores no dia 21 de Março de 2005.
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