09 003 TRATADO DO CANTE - Escrito:
TERRAS
DE FOGO - Prólogo
“(…)
Depois
carecemos surpreender as eiras na faina ardente do meio-dia …;
assistir à abalada dessa gente que, mal a madrugada lampeja, lá vai
em coros matinais, caminho das ceifas e apanha de legumes, e vê-la
no regresso, à noitinha, transpondo as muralhas do burgo, braços
dados, cores garridas, caras morenas e vermelhas bocas a cantar;
atentar nas suas festas, bailes, fogueiras de São João, arraiais,
romarias com touradas bravas, e esses opulentíssimos certames de
movimento e cor, que são as feiras e mercados, onde todos os
cambiantes da vida moral e social alentejana denunciam costumes,
paisagem, e tudo absorvido do mais pitoresco tradicionalismo.
…
Passando
um dia por esta região, mais ao Sul, notei que havia uns poços
empedrados e outros com pesadas tampas de ferro. Não sei bem porquê,
mais do que se fossem sepulcros, me impressionaram aqueles poços
cerrados…
Perguntei
o motivo, e entre as razões que me deram avultava a de suicídios –
suicídios de gente moça que se apaixonava com violência por
qualquer contrariedade vulgar ou detalhe de amor.
…
Compreendi,
assim, toda a dolência e melancolia que eles emprestam às suas
modas e cantares por essas noites cálidas, calmosas, misteriosas
noites de levante e de queimadas…
(…)”
In:
“Terras de Fogo” – 2ª Edição. De Julião Quintinha. Desenhos
da capa de Bernardo Marques. Edição do autor. 1923.
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