10 01 TRATADO DO CANTE – Escrito:

Estava-se no início de Dezembro (…)

Era frequente, após os jantares familiares, cantarem à alentejana e alguns fados também. O pai, já alegrote com os tintos da refeição, desafiava-os e todos correspondiam. Tinham um reportório mais ou menos certo que repetiam de umas vezes para as outras sem se fartarem.

Havia cantatas em coro, outras a solo e outras ainda com umas partes a solo e outras em coro. Cada um sabia a sua parte, quando devia entrar e quando se devia calar. E o pai, que também participava, ficava deliciado.

O Cante, na boa tradição alentejana, assumia-se como uma forma superior de partilha e fraternidade.

Não se pode pedir a um alentejano que deixe de cantar, isso seria como amputá-lo de uma parte importante de si próprio. E os que não cantam, porque não sabem ou a harmonia os não bafejou, escutam, que é a sua forma de participar.

(...)”




in: “Realidade(s) e outras construções (Contos, memórias e outras histórias)”, de João Manuel Croca. Edição de autor. 2020. Pág. 64.



Manuel João Croca, nasceu no Alentejo, em Cabeção, Mora, em Dezembro de 1957. Vive em Alhos Vedros, desde 1959. Participa ativamente no Movimento Associativo local como atleta, sócio ou membro dos Corpos sociais de várias coletividades. É sócio fundador da CACAV – Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros.


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