TRATADO DO CANTE – Bibliografia do Cante:

16 03 01 Revistas

A Tradição” Volume I (de Janeiro de 1899 a Dezembro de 1901); Volume II (de Janeiro de 1902 a Junho de 1904). 2ª. Edição em «fac-simile». Edição da Câmara Municipal de Serpa. 1997.




Da Nota introdutória:

(…)

Assumindo a responsabilidade de uma iniciativa de tão grande merecimento, os autarcas do concelho de Serpa dão-nos um claro testemunho da sua preocupação em devolver à fruição coletiva valores patrimoniais de há muito votados ao esquecimento. Ao mesmo tempo, revelam um raro entendimento das realidades culturais profundas de uma região, onde o substrato folclórico, fermentado por ocorrências sociais e políticas de acentuada caracterização campesina, transparece nas mais singelas produções populares da atualidade.

(…)

Das suas populações transmite-nos ela dados e apreciações próprios para fixar a sua fisionomia social e cultural, em determinado momento do seu desenvolvimento histórico. Neste particular, é de sublinhar a atenção dedicada ao reportório musical serpense, sabido como é que este aspeto fundamental do sentir artístico do nosso povo tem sido injustamente obliterado em publicações congeneres. Por certo tem razão Fernando Lopes-Graça em considerar de feição mais artificiosa as modas consignadas na revista, em notações inábeis e de suspeito rigorismo (Fernando Lopes-Graça, A Canção Popular Portuguesa, Col. Saber. Pub. Europa-América. Lisboa. 1954). Registamos em todo o caso, apresentar-se A Tradição como uma das nossas primeiras coletâneas de canções folclóricas.

(...)”

Michel Giacometti,

10 de Janeiro de 1982

De: “Das Razões de um «regresso» de «A Tradição»

«A Tradição, de Serpa, pelo programa que se impôs e pela discreta diligência com que procura desempenhar esse programa, representa, a meu ver, o mais belo exemplo patriótico de educação pública exercida pela imprensa». Com estas palavras, retratava o consagrado escritor Ramalho Ortigão o importante papel cultural que a si mesma se propôs essa revista de etnografia que, em 1899 nascia na vila alentejana de Serpa.

(…)

A preservação, afinal, de um testemunho de cultura que nos ensine a compreender melhor os contornos da nossa identidade, ajudando-nos, assim, a construir, mais sábia e autenticamente, o nosso destino coletivo futuro.”

Fevereiro de 1997,

O Presidente da Câmara Municipal de Serpa

João Manuel Rocha da Silva


Modas-estrebilhos alemtejanas (Pág.s 23/24, do I volume):

A primeira longa série de modas-estrebilhos que vamos publicar, ao mesmo tempo n’esta secção e no Cancioneiro musical, foi inteiramente recolhida na villa de Serpa.

Aproveitaremos, por isso, todo o ansejo que se nos offereça para continuarmos o estudo da linguagem local.

Cumpre explicar desde já, que, em Serpa. - como de resto, creio, em todo o Baixo-Alentejo, - o povo denomina «estylo» a música ao rhythmo da qual entôa as suas cantigas; e chama «resquebre» (corrupção de rquebro) à lettra de qualquer «moda». A lettra, ou resquebre, conjugada ao estylo constitue a «moda».

Há, porém, várias modas que não possuem resquebre.

A cantiga differe principalmente do resquebre em não ter, como este tem, musica especial.

A série de modas que hoje iniciamos, - umas, simples descantes, choreográphicas outras, - possuem todas o competente resquebre, que se diz, invariavelmente, depois das cantigas e logo após cada uma d’estas. Eis porque adoptámos o título de – Modas-estribilhos.


MANUELSINHO, VOCÊ CHORA

Manuelsinho, você chora,

Você chora, quem lhe deu?

Qual seri’ó atrevido

Que o Manuelsinho offendeu!


Rufam-se as cixas no Porto,

E o meu coração no teu!

Manuelsinho, você chora,

Você chora, quem lhe deu?



Notas. - A música d’este resquebre, convém precisamente aos bailes de roda e ao meio.

Como o resquebre é composto de duas quadras, há que bisar, dois a dois, os versos das cantigas que quisermos subordinar à moda do Manuelsinho.”

M. Dias Nunes







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