TRATADO DO CANTE – Alamaque:
Histórias do tempo da amoreira (I)
1.
As mondadeiras são como as aves, as ceifeiras como
Papoilas. Nenhum te ama como eu. Assim
Falava minha avó.
Mas eu fugia para junto das raparigas.
Encantava-me o rodado das saias, o colorido das faces, o
Secreto jeito de contar histórias que lhes lia nos lábios.
2.
Pegava num sacho, numa foice e construía paixões.
Nesse tempo eu era agrícola. A árvore que era minha
Avó, digna, forte, firme, deixava-me crescer à sua
Sombra. Sabia de mim como eu sabia dela, irmãos de
Uma mesma raiz.
3.
Mais tarde parti à procura do mar. Fui marinheiro,
pescador, marítimo. Hoje entrego-me ao suave
compasso da tua água. As mondadeiras são como
as aves, as ceifeiras como papoilas... És, pois, um
pássaro, uma papoila. Tem cuidado com o vento.
Pode quebrar-te as asas, roubar-te as pétalas. Teus
Lábios podem voar para o longe...
4.
Conta. Apaixonadamente ouvirei as tuas histórias.
Irremediavelmente, poisarei o sono no teu colo. Suave
E terna, a música encherá os campos de trigo. Fará do
Teu corpo o terno alaúde. Fica. Dou-te a minha flauta
De pastor.
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