TRATADO DO CANTE – Publicações do Cante:

Feijó meu lindo Feijó – A identidade de um Grupo Coral Alentejano no Concelho de Almada, de Ana Durão Machado. Capa de Raquel Ferreira. Editor Fernando Mão de Ferro. Edições Colibri. Novembro de 2020.


Da „Apresentação (Pág.s 15/17):
(...)
Quis o destino que quando iniciei o Mestrado em Antropologia, „Património e Identidades, em 1998, no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), estivesse também a lecionar no Cercal do Alentejo...
(...)
Por esse motivo, durante alguns meses achei que a minha tese de mestrado teria de ter como tema o cante alentejano e devia ser realizado no Alentejo, até porque era lá que estva a trabalhar e a residir.
(...)
Ouvir o cante no Feijó, sentido e dolente, vestido com uma roupagem antiga, fez-me refletir como era possível reunir num grupo coral alentejano homens vindos de tantos lados diferentes, com aquela identidade tão vincada. Como conseguiam cantar em conjunto daquela maneira, quando possuíam individualmente diferentes tradições de cante e de sotaques, conforme as suas proviniências?
(...)
Nesse sentido, o último capítulo deste livro é uma reflexão que pretende ser polifónico e dialógico, em que juntamente com os cantadores dos „Amigos do Alentejo“ se analisa a estrutura identitária do grupo coral, as presentes dificuldades e desafios, inerentes ao continuado envelhecimento dos seus elementos, e o futuro do cante em Almada.“


De „O Cante Espontâneo (pág.s 113/117):
(...)
Durante o período em que decorreu a realização do trabalho antropológico junto do grupo do Feijó assisti a dois momentos de cante distintos, um que se fazia no palco e que era geralmente o primeiro a ser apresentado, e aquele que irrompia depois, espontaneamente entre os homens, geralmente à volta de uma mesa.
(...)
Por estes motivos, este é considerado um cante de camaradagem, de cumplicidades, sendo por isso também mais solto, interpretado com maior emoção pelos cantadores, podendo tornar-se um pouco mais sentimental do que aquele que se ouve nos espetáculos, sobretudo se o alentejano bebeu „um pouco a mais da conta“, expressando-o com maior tristeza e melancolia.
(...)
Outros momentos de cante expontâneo, a que pude assistir também com os „Amigos do Alentejo“, decorreram nos autocarros em que eram transportados para as atuações, essencialmente fora do concelho de Almada. De regresso a casa, entusiasmados com a atuação pareciam ganhar uma nova vida, o cansaço não os vencia, cantando modas à desgarrada entre eles até chegarem de novo ao Feijó.“


Ana Durão Machado nasceu em Lisboa a 19 de janeiro de 1973. É licenciada em Antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (1996). Mestre em Antropologia, na Especialidade de Património e Identidades, pelo ISCTE. (No âmbito deste mestrado iniciou a sua investigação sobre a construção social da identidade alentejana no concelho de Almada, no Feijó, através do Grupo Coral e Etnográfico “Amigos do Alentejo” - durante 1999-2001).

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TRATADO DO CANTE - Modas:

TRATADO DO CANTE - Destaque-se: