TRATADO DO CANTE (contributo). De José Francisco Pereira e Maria Eduarda Rosa. Edição do Município da Moita. 2021.

Da Apresentação do livro:

Para entendermos melhor o que é o Cante Alentejano aponto aqui algumas questões que vêm sempre à baila, como:

Porquê “Cante”?

O que é uma moda?

O que é uma cantiga?

O que é um ponto?

O que é um alto?

Etc.

Estas respostas encontram-se no Tratado que aqui apresentamos. No entanto queremos esclarecer que não nos podemos arvorar em “entendidos em Cante”. Nem sei se haverá alguém que se possa manifestar como entendido em Cante…

Cabe aqui relembrar a seguinte passagem:

“(…) A saudosa Natália Correia que tanto amava o Alentejo, contou-me um dia um episódio passado com ela (…). Eis essa história, mais tarde recordada pela pena de seu marido o poeta Dórdio de Guimarães (na comunicação apresentada no “Encontro Outono Poético”, realizado em Monsaraz de 18 a 20 de Novembro de 1994):

Numa dessas tardes então percorríamos nós uma estrada que, vinda de Évora, se embrenhava numa famosa zona onde abundavam preciosidades megalíticas como antas, dolmens e menires, quando deparámos com um vagabundo, maltês típico, saindo estremunhado da gruta de uma anta. Natália, surpreendida, pediu que o automóvel parasse com o intuito de interpelar a singular criatura. Trocadas as primeiras palavras, o nosso maltês, sábio e pachorrento, esclareceu-nos que, como era evidente, a sua profissão era andar de terra em terra, comendo o que apanhava ou lhe davam e dormindo onde calhava. Daí, ter-se acolhido na noite anterior nessa anta, tardiamente, ter-se deitado de costas no chão, olhando as estrelas, ficando a meditar nelas, como era seu uso, até adormecer. Agora acordara e ia meter-se ao caminho. Natália pergunta-lhe: Então gosta de olhar as estrelas, pensar nelas, tentar percebê-las. O senhor é um filósofo, é um poeta. Diga-me uma coisa: Como definiria, o que é para si o firmamento, o universo?

O maltês coçou os queixos de pelos ralos, fixou Natália, penetrantemente, numa lenta cogitação e, ao fim de um minuto, saiu-se com este conceito que nos estarreceu, pois tratava-se de um analfabeto: Olhe minha senhora, o universo é como que um meio sem pontas

Local: Horta – Biblioteca Municipal e Arquivo Regional da Horta.

Dia 24 de Setembro de 2021, pelas 18:00 horas.




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